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ACTA do XLVIII CAPÍTULO GERAL
Criado por jvieira em 21/10/2017 10:18:11

ACTA do XLVIII CAPÍTULO GERAL - "Do Reino Maravilhoso para o Mundo."

ATA de l XLVIII Capítulo Giral – “De l Reino Marabilhoso pa l Mundo”


ACTA do XLVIII CAPÍTULO GERAL - "Do Reino Maravilhoso para o Mundo."

ATA de l XLVIII Capítulo Giral – “De l Reino Marabilhoso pa l Mundo”

Aos vinte e nove dias do mês de Outubro do ano da graça de dois mil e dezasseis, às dez horas e trinta, acrescidas de uma hora, na Capital do Reino Maravilhoso, São Martinho de Anta, Sabrosa, reuniu-se no Espaço Miguel Torga, o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, abreviadamente denominada CEGTAD, presidido pelo Mui Respeitável Grão-Mestre. Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:

1.      Leitura e votação da Acta do Capítulo Geral de Primavera de 2016;

2.      Rituais de Entronização e confirmação;

3.      Plano de Actividades para 2017

4.      Outros assuntos.

Na ausência do Grão-Conselheiro, presidiu ao Capítulo o Segundo Tabelião, o Confrade Irmão António Branco.

O Mestre dos Ritos e das Cerimónias anunciou a abertura, em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, do Capítulo de Outono. Referiu a presença da Confraria do Pudim Abade de Príscos, cuja iguaria certamente teria enriquecido o Vinho Fino de Honra com que fomos brindados na nossa Recepção à casa do grande Poeta Miguel Torga. Não será por acaso que duas das principais matérias-primas desta iguaria minhota, O Toucinho de Chaves e o Vinho do Porto, são oriundas do Reino Maravilhoso.

Antes da ordem do dia, os confrades foram presenteados com uma magnífica apresentação fotográfica da Grã-Escançã sobre os 20 anos da confraria, onde os Confrades puderam constatar os benefícios de uma participação activa na CEGTAD para a mantença da sua formusura. Não obstante, foi visualizado pelos participantes que as acções da confraria não se esgotam nos Capítulos, tendo ficado provado o afinco que os membros do Directório de Notáveis colocam nas suas árduas reuniões de defesa dos Vinhos e da Gastronomia da Região.

Seguiu-se a sessão de Boas Vindas do Presidente do Município de Sabrosa, José Marques. Começou por referir ser uma honra para o município receber a Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro no Espaço Miguel Torga, que teve a grandiosidade de verbalizar em Poesia e Prosa a paisagem e as gentes deste Reino Maravilhoso. Importante na transmissão do legado de Torga foi a confiança dada a Souto Moura para a concepção do edifício que se viria a tornar uma obra-prima da Arquitectura. A este propósito referiu que muitos dos visitantes atraídos pela obra do poeta ficam enriquecidos por embeber-se na obra do arquitecto e, sendo significativo o número de visitantes movidos pela razão inversa, também saem engrandecidos após o contacto com a vida e obra de Torga. Para finalizar referiu ser a identidade cultural das gentes de Trás-os-Montes e Alto Douro o principal activo da Região em qualquer estratégia de desenvolvimento, enaltecendo o trabalho da CEGTAD na procura da valorização das gentes, da paisagens e dos produtos deste Reino Maravilhoso.

O Mestre de Ritos e Cerimónias passou ao ponto 1 da ordem de trabalhos, tendo o Grão-Chancelar procedido à leitura da Acta do Capítulo realizado em Torre de Moncorvo. Após sujeita a votação, a mesma foi aprovada pelos confrades com uma abstenção. Não obstante, o Confrade Xavier Martins sugeriu ao Directório de Notáveis que a proposta de acta fosse enviada para os Confrades por correio electrónico, prescindindo-se da sua leitura no Capítulo, o que aumentaria o sempre apertado tempo disponível para o cumprimento da ordem de trabalhos.

E assim lá se atalha para o final do Capítulo.

Após ter sido dada a palavra à assembleia para se pronunciar sobre qualquer tema que à confraria diga respeito, não houve nenhum confrade a usar da palavra. O Mestre de Ritos e Cerimónias deu o Capítulo por encerrado.

São Martinho de Anta, Capital do Reino Maravilhoso, Terra de Torga, 29 de Outubro de 2016

O Grão-Chanceler,

José Vieira

Não. Não é o fim da leitura da Acta. Ainda nem sequer zarpamos de Sevilha … Foi apenas um pretexto para homenagear a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães. Não importa se rumamos a ocidente ou a oriente. Nem sequer será o mais importante que sejamos nós próprios a chegar ao destino, como aconteceu com o navegador. O importante é que o nosso sonho, como o dele o foi, seja concretizado. Esse é também o sonho de todos nós. Que a cultura e os produtos transmontanos sejam valorizados ao longo de todo o mundo, unido por Magalhães.

Como lembrou elogiosamente o Mestre de Ritos e Cerimónias, a acta da confraria não é meramente um documento descritivo sobre o acontecimento histórico Capítulo. É antes de mais a narração das estórias do Capítulo. Ou pelo menos é essa a presunção do Grão-Chanceler.

Assim, se o Mui Respeitável Grão-Mestre permite, comecemos então a navegação.

Coube ao Mestre de Ritos e Cerimónias anunciar as entronizações aprovadas pelo Conselho de Anciãos. A Primeira candidata a Confrade Noviça anunciada foi Fátima Marques e competiu à sua irmã gémea, a admirável Grã-Escançã, mulher do Douro 2016, a apresentação. Fátima Marques apresenta uma vasta experiência académica e profissional na área da saúde, destacando-se o seu papel importante na reabilitação cardíaca. Para além de apreciar a gastronomia e os seus vinhos, certamente por partilhar os genes da irmã, poderá ter um papel importante na promoção da compatibilidade existente entre a cozinha tradicional transmontana e alto duriense e saúde. Seguiu-se a apresentação de Virgínia Vieira patrocinada pelo Mestre de Ritos e Cerimónias. Tendo desenvolvido a sua actividade como gestora financeira dos CTT, é no entanto como fundadora da Confraria Gastronómica das Casulas, com sede em Mogadouro, que a candidata será certamente uma mais-valia para a CEGTAD.

O Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a existência de seis propostas de confirmação anunciadas pelo DIRECTÓRIO DOS NOTÁVEIS para deliberação do Capítulo Geral. O primeiro a apresentar a sua prova de interesse pelo que ao vinho e à gastronomia regionais diga respeito e do cumprimento dos estatutos da CEGTAD foi António Afonso. O Confrade Noviço adocicou a plateia com a apresentação do labor de uma das principais responsáveis pela qualidade de grande parte dos produtos gastronómicos de Trás-os-Montes e Alto Douro: A abelha. Não só no mel e outros produtos da colmeia que directamente produz mas no seu papel na polinização da riquíssima flora da nossa região, espontânea e cultivada. Apresentou com detalhe a potencialidade para a saúde e cosmética do mel e outros múltiplos produtos da colmeia de que a maioria dos Confrades desconhecia, referindo que até ao veneno lhe tem sido apontadas virtuosidades para a saúde. Embora a apresentação tivesse despertado a vontade de aumentar o consumo de produtos apícolas, foi unanimemente considerado mais oportuno manter uma certa distância à dócil criatura.

Seguiu-se a apresentação de Paulo Costa. Nascido numa aldeia duriense, como tantos outros conterrâneos, foi em busca de oportunidades no litoral e no estrangeiro. No entanto a saudade falou mais alto e decidiu regressar, investindo no seu território de origem, contrariando a tendência para a desertificação humana do interior português e a consequente perda de muitos produtos tradicionais e do saber que é a razão de ser da nossa existência enquanto confraria.

O terceiro candidato a Confrade Irmão a apresentar a sua defesa foi João Filipe Sá. Noviço há alguns anos na Confraria, o fiel servo do Directório de Notáveis começou por fazer a sua defesa evocando a memória do seu padrinho de entronização Roger Lopes. Começou por referir que a sua paixão pela gastronomia e vinhos de Trás-os-Montes e Alto Douro é sobretudo dádiva dos ensinamentos do saber comer e do saber beber que lhe foram transmitidos pelo seu padrinho, confrade de Honra e Devoção. A assembleia ficou desde logo rendida a tão magistral argumento. Prosseguindo a sua defesa, o candidato apresentou um projecto posto em prática no último ano. A partilha de experiências gastronómicas obtidas em tertúlia na Confraria, juntamente com a sua esposa Marta, foram o mote para a implementação do projecto Quinta da Ponte na Cidade em parceria com amigo, detentor de Alojamento Local no Porto. Depois das experiências obtidas a montante do Douro transmontano, inclusive com incursão pelo Mississípi, o Confrade Noviço resolveu levar Trás-os-Montes e Alto Douro à foz deste rio de ouro. O gosto do casal para cozinhar e partilhar levou à disponibilização de um serviço de eventos na cidade e que consistem em cozinhar para os hóspedes de todo o mundo alojados no espaço hoteleiro, com o saber das gentes da sua terra e os produtos da sua quinta, partilhando experiências gastronómicas conversadas e projectando a Região de Trás-os-Montes e Alto Douro por todo o mundo.

Na tentativa de impressionar o Mui Respeitável Grão-Mestre e, dessa forma, lhe conceder uma passagem administrativa, a Confrade Noviça Maria Adozinda Marcelino começou por contar um episódio passado na sumptuosa sede da Confraria, em Mirandela. Chegou a cozinhar toda uma refeição, com sete pratos à base de Cuscus transmontanos, os autênticos, tão laboriosamente preparados em Vinhais a partir de Trigo Barbela. Desde as entradas até à sobremesa foi um fluir de sensações degostativas edénicas nesse memorável repasto. Mas como lembrou a candidata na sua defesa, tal feito não convenceu o Mais Que Tudo Mui Respeitável Grão-Mestre, que lhe afiançou: Confirmação sem falar perante os confrades nem sonhar. Lembrou a simplicidade da cozinha transmontana na sua meninice, mas tão complexa de aromas e sabores e que tentou traduzir no seu best-seller Memórias da cozinha transmontana. Haja saúde e coza o forno.

Seguiram-se os considerandos de José Marques pelos quais entende ser merecedor de se tornar confrade irmão, após um longo período de aprendizagem como Confrade Noviço. A sua contribuição para a defesa dos vinhos e da gastronomia transmontana e alto duriense realizou-se em dois planos. No plano institucional, enquanto autarca, frisou que todas as oferendas institucionais têm como origem os produtos da terra e o artesanato local. Esta preocupação está presente sempre que se desloca em missão ao estrangeiro. Lembrou a oferenda de Vinho do Porto a Sua Santidade o Papa Francisco, o qual ficou deveras sensibilizado, não só com a qualidade intrínseca do vinho, mas sobretudo pelos valores humanistas por trás de quem o produz: Não há Vinho do Porto sem esforço, entreajuda, perseverança, dedicação, amizade, em suma, o conjunto de valores defendidos pelos Cristãos. Certamente que o Vinho de Missa nas eucaristias da Capela Sistina passou a ser o Vinho do Porto de Sabrosa. Finalmente fez referência a um projecto do qual o Município de Sabrosa é pivô. Unir a cidade natal de Magalhães, Sabrosa, e todas aquelas que foram aportadas na vagem de circum-navegação de Fernão Magalhães. Projecto iniciado há precisamente uma década, hoje a rede de cidades de Magalhães está instituída, fazendo dela parte perto de vinte cidades espalhadas pelo Mundo. Criada com o propósito de celebrar o V Centenário da viagem de circum-navegação, 2019-22, a rede é mais do que a celebração do importante feito do navegador português para o conhecimento científico. Pretende criar uma rede sólida e duradoura de cooperação em diversas áreas, desde a cultural, científica, comercial e turística. A este propósito apresentou a candidatura da Rota de Magalhães a património imaterial da UNESCO, constituindo a primeira rota turística à escala global. Vincou a imensa janela de oportunidades para o turismo e para os produtos transmontanos e alto durienses que a Rota de Magalhães representará.

Coube ao confrade noviço António Pimentel Sanches a última apresentação dos argumentos com os quais solicita que a assembleia o considere merecedor do título de Confrade Irmão. O candidato iniciou a sua apresentação com a explanação de dois adjectivos aparentemente contraditórios: Tradição ou evolução. Se o caminho da valorização dos produtos transmontanos se deverá realizar através de uma cozinha fiel à tradição, com pratos confeccionados como o faziam as nossas avós ou, pelo contrário se deverá ser seguida uma linha de uma cozinha moderna. Neste ponto, o proponente referiu que, seja ele qual for o caminho escolhido, a necessidade de preservar a base da gastronomia transmontana: As matérias-primas: Raças autóctones, variedades tradicionais, produtos com denominação de origem, é fundamental. Como os olhos também comem, a evolução da cozinha transmontana deverá ser no sentido da inovação, pintando os pratos confeccionados, sem corantes, mas com um visual mais apelativo. Relativamente à Gastronomia e Turismo, o confrade demonstrou que a restauração transmontana não está preparada para um turismo de permanência. Deu o exemplo de Mogadouro, em que a posta é o ex-libris. Apesar de genericamente bem confeccionada, não existe oferta satisfatória de outros pratos para quem tenha mais disponibilidade do que uma simples paragem para almoço. Para finalizar propôs à assembleia um novo projecto ao qual demonstrou toda a sua disponibilidade: A edição de um livro sobre gastronomia transmontana. Não apenas mais um livro sobre receitas transmontanas mas uma edição graficamente atraente que fosse a montante e a jusante das próprias receitas, aproveitando os sábios conhecimentos de tão ilustre confraria, como a agricultura, pecuária, micologia, ecologia, dietética, turismo e outros temas relacionados com a gastronomia. Tal como o confrade temia, a assembleia atirou-lhes ovos, não os podres mas doces e pintados de mil cores, como que de certa forma manifestando igualmente a sua vontade de contribuir para um projecto agregador, em prol da gastronomia transmontana.

O Capítulo aprovou por unanimidade a confirmação da totalidade das confirmações.

Encerrando o segundo ponto da agenda o Confrade Fundador António Branco procedeu ao acto solene de juramento dos confrades entronizados e dos confrades confirmados, exaltando-os mais uma vez para a defesa intransigente da gastronomia e vinhos que as gentes de Trás-os-Montes e Alto Douro tão laboriosamente os produzem.

Competiu ao Mui Respeitável Grão-Mestre apresentar o Plano de Atividades para 2017 e abordar o ponto da agenda “outros assuntos”. As suas primeiras palavras foram para enaltecer as virtuosidades da nossa Grã-Escançã que, pelo seu dinamismo, pelo seu coração maior que o próprio Douro que não se cansa de promover, a tornaram merecedora do prémio de Mulher do Douro de 2016. Seguiu-se o resumo dos motivos pelos quais as propostas dos padrinhos dos confrades noviços tiveram admissão aceite por parte do Conselho de Anciãos e pelos quais o Directório de Notáveis aprovou a totalidade das propostas de confirmação e que foram unanimemente aprovadas no capítulo.

Em relação ao Plano de Actividades para 2017, o Mui Respeitável Grão-Mestre anunciou a realização do Capítulo de Primavera em Murça e o de Outono em Sambade, Alfândega da Fé. Referiu ainda estar prevista a realização de um capítulo extraordinário de Verão a realizar na Galiza. Neste âmbito, mencionou a participação activa da CEGTAD na proposta da Gastronomia de Trás-os-Montes e Alto Douro a património imaterial da humanidade e na própria candidatura da Rota de Magalhães. Para a elaboração da candidatura o Mui Respeitável Grão-Mestre relembrou que no Capítulo de Primavera em Torre de Moncorvo foi apresentado um projecto para uma publicação análoga à apresentada pelo confrade António Sanches no âmbito da sua confirmação. Nessa óptica, encorajou os confrades a apresentarem estórias à volta das causas gastronómicas, referindo o endereço de correio electrónico da confraria para o envio de trabalhos e/ou sugestões. A este propósito, não deixou de apresentar um episódio que se passou numa das suas múltiplas viagens de circum-navegação pelo Reino Maravilhoso. A Dona Jacinta tinha todo o cuidado para que o seu fiel amigo não se acercasse do caldeiro onde confeccionava a sopa de beldroegas. Intrigado pela preferência canina pelo caldo de uma erva considerada muitas vezes infestante, o Mui Respeitável Grão-Mestre veio a saber que a moura e o toucinho eram dois dos ingredientes utilizados na sua confecção.

Dando como terminadas as comemorações dos 20 anos da Confraria, o Grão-Mestre congratulou-se pelas excelentes prelecções apresentadas no âmbito das confirmações e que são a demonstração da vivacidade desta jovem confraria de 20 anos de idade.

E foi assim que terminou esta nossa viagem com partida e destino no Reino Maravilhoso.

Sabrosa, Capital do Mundo, Terra de Magalhães, 29 de Outubro de 2016, a mais do que horas do merecido repasto.

O Grão-Chanceler,

José Vieira

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