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ACTA do XLVII CAPÍTULO GERAL
Criado por jvieira em 21/10/2017 10:16:57

ACTA do XLVII CAPÍTULO GERAL - "Honras à Amêndoa Coberta de Moncorvo."

ATA de l XLVII Capítulo Giral – “Honras a la Almendra Cubierta de Moncorbo.”


ACTA do XLVII CAPÍTULO GERAL - "Honras à Amêndoa Coberta de Moncorvo."

ATA de l XLVII Capítulo Giral – “Honras a la Almendra Cubierta de Moncorbo.”

Aos nove dias do mês de Abril do ano da graça de dois mil e dezasseis, às dez horas em ponto, acrescidas de uma hora, na Terra da Joana, Torre da Vilariça, Torre de Mem Corvo, reuniu-se no Cine-Teatro de Torre de Moncorvo, o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, abreviadamente denominada CEGTAD, presidido pelo Mui Respeitável Grão-Mestre. Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:

1.      Leitura e votação da Acta do Capítulo Geral de Outono de 2015;

2.      Rituais de Entronização;

3.      Comemorações dos 20 ANOS de Confraria:

·         Reedição da Revista bebes.comes;

·         Honras à Amêndoa Coberta de Moncorvo;

4.      Outros assuntos.

O Capítulo de Primavera decorreu em parceria com o da Confraria da Amêndoa do Douro Superior, afilhada da CEGTAD, e que teve a sua fundação há quase 3 anos.

O Mestre dos Ritos e das Cerimónias anunciou a abertura do Capítulo, solicitando ao Mui Respeitável Grão-Mestre autorização para participar da Assembleia, o por um triz Mui Respeitável Grão-Mestre da Confraria do Covilhete, da qual a CEGTAD é também madrinha.

A sessão iniciou-se com uma mensagem de boas vindas do Presidente do Município, Nuno Gonçalves. A propósito do tema do Capítulo referiu que o concelho é o maior produtor nacional de amêndoa, destacando-se igualmente a qualidade reconhecida dos seus vinhos e azeites. A Raça Churra da Terra Quente, com o seu solar no concelho, produz também um dos mais afamados queijos nacionais. Com tão preciosos ingredientes, a assembleia desde cedo se apercebeu que o Capítulo teria todas as condições para ser um dos momentos mais altos dos vinte anos da nossa confraria, criando elevadas expectativas para o almoço que se avizinhava, que com toda a certeza será servido de forma magistral pelo D. Roberto, cuja excelência do serviço e simpatia dos colaboradores já todos tinham testemunhado no Capítulo de Outono.

A terminar, Nuno Gonçalves convidou a assembleia a visitar, antes do almoço, a feira medieval que decorre no fim-de-semana, aproveitando para informar a oferta de um generoso de honra na barraca medieval da Adega Cooperativa de Torre de Moncorvo. Em nome do município, ofereceu uma sumptuosa placa evocativa do XX.º aniversário da confraria, baseada nos editais medievais, que passará a fazer parte das peças de arte expostas na casa museu, na sede da CEGTAD em Mirandela.

O Mestre de Ritos e Cerimónias passou ao ponto 1 da ordem de trabalhos, tendo o Grão-Chancelar procedido à leitura da Ata do Capítulo realizado em Bragança. Após sujeita a votação, a mesma foi aprovada pelos confrades por unanimidade.

Mais uma vez, o Mestre de Ritos e Cerimónias voltou a referir a necessidade de assinatura do livro de actas. Desta vez, infelizmente, talvez por magia medieval, o livro de presenças encontra-se em parte incerta. Ficou a decisão de, logo que seja localizado, ficar à guarda do Zeloso Grão-Chanceler.

Passando ao segundo ponto da ordenança, o Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a existência de quatro entronizações aprovadas pelo Conselho de Anciãos, três a serem apresentadas pelo Mui Respeitável Grão-Mestre: O Fernando Gil, o Vítor Moreira e o António Fernandes e uma quarta, Orlando Almeida, a ser apresentada por ele próprio.

O Mui Respeitável Grão-Mestre começou por apresentar Vítor Moreira, Moçambicano de nascimento e Moncorvense de coração, o candidato teve a feliz oportunidade de representar as cores, azuis e brancas, do melhor clube de futebol do mundo, logo após, obviamente, do Grupo Desportivo de Torre de Moncorvo. Seguidamente apresentou Fernando Gil, Eng.º Civil, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Torre de Moncorvo e um grande empresário agrícola. Finalmente foi apresentado Vítor Moreira, empresário Agrícola de sucesso, criador, juntamente com a sua família, dos vinhos Cistus, que fizeram da Sociedade Agrícola Familiar da Quinta do Vale da Perdiz uma das empresas vitivinícolas que mais prestigiam a qualidade dos Vinhos do Douro Superior.

Coube então ao Mestre de Ritos e Cerimónias apresentar o último entronizado do Capítulo. Com fundamento algo discutível, começou por referir que, Orlando Almeida, tal como o apresentador, provêm da excelente colheita de 53. Não consta que tenha sido ano de vintage. Já alicerçada em factos indesmentíveis, referiu que a aldeia da Granja, próxima do fim do mundo, onde se encontra a sua origem materna, foi o ambiente perfeito para os seus dotes culinários no seu riquíssimo receituário gastronómico de Trás-os-Montes. Os seus conhecimentos enófilos são também a garantia de estarmos em presença de um confrade noviço que poderá ser forte contributo para a prossecução dos objectivos da confraria.

A completar os membros sujeitos a juramento, o Grão-Conselheiro apresentou os argumentos para que a assembleia reconhecesse em Sofia Lage o legado de Augusto Lage, confrade fundador da CEGTAD. Licenciada em História da Arte e Pós-Graduada em Museologia, Sofia Lage tem desenvolvido o seu percurso profissional no desenvolvimento de programas educativos e comunitários na Região Transmontana, com o objectivo de melhorar as boas práticas dos museus e o seu potencial enquanto catalisadores de empreendedorismo. Só por si, este perfil de competências ao serviço do cumprimento dos objectivos da confraria, de promoção e a divulgação dos vinhos e da gastronomia da região de Trás-os-Montes e Alto Douro e dos usos e costumes associados a este vasto património imaterial, seria garante da importância do legado. No entanto, a Confrade Legatária aproveitou a oportunidade concedida pelo Mui Respeitável Grão-Mestre para dar o seu primeiro testemunho da importância desse legado ao contar uma riquíssima história familiar: O seu bisavô paterno, trasmontano e apreciador da gastronomia da sua terra, tendo casado com a sua bisavó, alguém que até então não conseguia demonstrar os seus dotes de cozinheira, tomou uma grande opção. Chamar um grande cozinheiro para que ensinasse à sua esposa a arte de bem confecionar as iguarias da gastronomia transmontana. E assim nasceu uma exímia cozinheira que teve a grande generosidade de transmitir à sua filha o riquíssimo património em que se tornou o receituário da família e que lhe foi comunicado por sua avó e sua mãe e que será brevemente partilhado com toda a confraria. Quiçá, a simbiose entre a cozinha profissional e as iguarias tradicionais da cozinha Trasmontana e Alto Duriense terá originado o aparecimento de dois Mestres Cozinheiros que terão inspirado futuras gerações de Masters Chefs como alguns têm a pretensão de serem apelidados.

Agradeceu a todos os confrades a felicidade com o legado, particularizando nas afáveis palavras do Grão-Conselheiro, da Vice Grã-Mestre e adicionando uma nova dimensão ao rol de qualidades atribuídas ao Mui respeitável Grão-Mestre: A sua lindeza.

Encerrando o segundo ponto da agenda o Grão Conselho procedeu ao acto solene de juramento dos confrades entronizados e da confrade legatária, exaltando-os mais uma vez para a defesa intransigente da gastronomia e vinhos que as gentes de Trás-os-Montes e Alto Douro tão laboriosamente os produziram.

Passando ao ponto três da agenda, as Comemorações dos 20 anos da Confraria, o Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a comunicação de Cátia Barreira e Joana Gonçalves, diretoras da revista de periodicidade mensal Raízes, à qual a CEGTAD se associou desde o seu n.º 1 por partilharem um objecto comum: A promoção do território de Trás-os-Montes e Alto Douro e das suas gentes. Não desfazendo a formusura do Mui Respeitável Grão-Mestre testemunhada pela Confrade Legatária, toda a assembleia pode constatar nesta dupla o significado de lindeza transmontana. Eis o Reino Maravilhoso.

No sentido de materializar a cumplicidade entre a CEGTAD e a Raízes, foi decidido pelo Diretório de Notáveis reeditar através desta jovem publicação a revista bebes.comes que durante muitos anos foi veículo privilegiado da confraria para a difusão da gastronomia e cultura transmontanas. Assim, ficou decidido por acordo entre o diretório de notáveis e as directoras da revista que, com periodicidade semestral, a revista raízes cederia as suas 4 páginas centrais para a publicação da bebes.comes cuja responsabilidade editorial seria do Grão-Conselheiro sob a sábia supervisão do Mui Respeitável Grão-Mestre. Em contrapartida, a CEGTAD contribuiria financeiramente para suportar os custos deste novo caderno, cuja apresentação deste primeiro número esteve a cabo de Cátia Barreira.

Ainda sobre a bebes.comes, o Grão-Conselheiro desafiou todos os confrades a darem o seu contributo para que este projecto recém-criado tenha a sua continuidade ao longo dos próximos 20 anos. Nesse sentido, porque o diretório de Notáveis se revê no estatuto editorial da revista e porque reconhece nos 21 volumes já publicados a excelência do jornalismo regional, o Grão-Conselheiro aconselhou todos os confrades a assinarem a revista e a promoverem a sua divulgação.

Seguidamente, no âmbito do tributo à Amêndoa Coberta do Douro e na sua qualidade de confrade da Amêndoa do Douro Superior, tomou da palavra Rogério Rodrigues, notável jornalista nascido em Peredo dos Castelhanos. Mais do que nos transmitir informação sobre a Amêndoa no Douro Superior, o Confrade presenteou toda a assembleia com uma belíssima crónica sobre a Amendoeira em Terras Moncorvenses e sobre a pérola do seu principal produto que é a Amêndoa Coberta. A importância da comunidade judaica de Torre de Moncorvo na época medieval e a vulgarização do açúcar na doçaria conventual após a colonização da Ilha da Madeira terão sido factores determinantes para o surgimento desta preciosidade ancestral. Parafraseando um aforismo da época, Rogério Rodrigues referiu que a flor da amendoeira é efémera como os amores de uma freira. Daí que, certamente, a amêndoa coberta terá feito as delícias dos conventos.

Competiu ao Mui Respeitável Grão-Mestre a última intervenção na reunião magna da confraria. A realização do Capítulo na Terra que o viu nascer, a feliz escolha do tema do Capítulo de Primavera, dedicado às Amêndoas Cobertas de Moncorvo e às Doceiras na comemoração de 20 anos de Capítulos, o seu ímpar conhecimento agronómico, nomeadamente na cultura da amendoeira, e a sua capacidade oratória, alteraram por completo as emoções de toda a assembleia que o escutou com grande regozijo. Como se não bastasse, a sua condição de sobrinho de uma das maiores doceiras de Moncorvo, a Tia Rosa Monteiro, fez aumentar grandemente os níveis de doçura da sua comunicação de vinte 20 minutos. Foi transmitida de tal forma apaixonada que tornou impossível ao Grão-Chanceler a sua tarefa de transcrever em acta as tremendas trocas de emoções que ocorreram entre o orador e a assembleia. Todos nós ali conseguimos deliciar-nos com a amêndoa coberta sem sequer a provar.

Apesar de inglório o esforço de resumir a comunicação do Mui Respeitável Grão-Mestre, convém que fique registado em acta algumas ideias por ele transmitidas sobre o surgimento da amêndoa coberta. Pouco se sabe sobre a sua origem. Muitos autores atribuem a origem de muitos produtos tradicionais, incluindo a amêndoa coberta, aos sefarditas. Apesar do povo judaico ter tido uma importância significativa na economia de Torre de Moncorvo na idade média, muito provavelmente a origem do doce terá sido árabe. Geralmente a doçaria judaica tinha por base mel e não açúcar. A arte de confeitar as amêndoas, de forma semelhante à existente em Moncorvo, é comum a várias comunidades rurais espalhadas pelo mundo onde a cultura da amendoeira tem algum significado. Existem registos da sua existência no Sul de Espanha nos Séculos XI e XII, seguramente com origem árabe, pelo que é plausível que fossem produzidas em Torre de Moncorvo em tempos anteriores à própria nacionalidade. Terá sido no entanto no Período do Barroco que a amêndoa coberta se difundiu. A presença de várias casas senhoriais desse período é o testemunho da prosperidade de Moncorvo. A elas estará associada a recriação da amêndoa coberta, já que era comum a existência à mesa das casas abastadas das amêndoas cobertas, como comprova uma pintura de Josefa de Óbidos do Século XVII. A dinâmica comercial de Torre de Moncorvo com a Flandres e a Academia dos Unidos foram dois factores fundamentais para que a amêndoa coberta chegasse ao palato das mais exigentes mesas europeias.

O Mui Respeitável Grão-Mestre acrescentou ainda um outro ponto importante. O segredo da qualidade da amêndoa coberta está também associado às variedades autóctones da amendoeira. Em contraponto às variedades molares, são mais doces, com maior teor de amigdalina e com uma concentração de açúcares e gorduras mais favoráveis à sua conservação. Não rançavam tão depressa como as outras.

O Mui Respeitável Grão-Mestre desafiou ainda a Confraria da Amêndoa do Douro Superior, da qual é também confrade, a recriar uma receita antiga de torre de Moncorvo muito apreciada na sua infância e cuja técnica é estritamente árabe, o que poderá ser mais uma prova da provável origem árabe da amêndoa coberta: A amêndoa cristalizada, o amenduco, ou terrinca ou terruca ou o cachulo, cujo fruto é colhido ainda no seu estado jovem, geralmente em finais de Abril, introduzidos em uma calda açucarada, ao que se segue a secagem.

A finalizar sua comunicação, o Mui Responsável Grão-Mestre anunciou a realização no próximo dia 15 de abril, por iniciativa das Associações de Desenvolvimento Local, DESTEQUE, CORANE e Douro Superior, responsáveis pela implementação no território do Programa Comunitário LEADER, de uma sessão de apresentação no mítico Restaurante Maria Rita, no Romeu, para lançamento da Candidatura da Gastronomia e dos Produtos da Terra Ligados à Alimentação de Trás-os-Montes e Alto Douro a Património Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO.

Após ter sido dada a palavra à assembleia para se pronunciar sobre qualquer tema que à confraria diga respeito, não houve nenhum confrade a usar da palavra. O Mestre de Ritos e Cerimónias deu o Capítulo por encerrado.

Torre de Moncorvo, 9 de Abril de 2015

O Grão-Chanceler,

José Vieira

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